O Processo de Integração das Mídias na Escola
O
que procurarei discorrer nessas linhas é o que cosegui apreender nas aulas do
Curso de Especialização em Educação Integral da Universidade Federal de Santa
Catarina, com os professores(as) Nestor, Adriana, Juares, Jane, Ilana, as oficinas coordenadas pelos professores colaboradores, tendo como referencial
o texto do livro Desafios na Comunicação Pessoal de José Manuel Moran . 3ª Ed. São
Paulo: Paulinas, 2007, p. 162-166.
Estamos deslumbrados
com o computador e a Internet na escola e vamos deixando de lado a televisão e
o vídeo, como se já estivessem ultrapassados, não fossem mais tão importantes
ou como se já dominássemos suas linguagens e sua utilização na educação. A
televisão, o cinema e o vídeo, CD ou DVD, os meios de comunicação audiovisuais,
desempenham indiretamente, um papel educacional relevante. Passam-nos
continuamente informações, interpretadas; mostram-nos modelos de comportamento,
ensinam-nos linguagens coloquiais e multimídia e privilegiam alguns valores em
detrimento de outros. A informação e a forma de ver o mundo predominante no
Brasil provêm fundamentalmente da televisão. Ela alimenta e atualiza o universo
sensorial, afetivo e ético que crianças e jovens, e grande parte dos adultos,
levam para sala de aula. Como a TV o faz de forma mais despretensiosa e
sedutora, é muito mais difícil para o educador contrapor uma visão mais crítica,
um universo mais abstrato, complexo e na contra-mão da maioria como a escola se
propõe a fazer.
A TV fala da vida, do
presente, dos problemas afetivos, a fala da escola é muito distante e
intelectualizada, e fala de forma impactante e sedutora - a escola, em geral, é
mais cansativa, concorda? O que tentamos contrapor na sala de aula, de forma
desorganizada e monótona, aos modelos consumistas vigentes, a televisão, o
cinema, as revistas de variedades e muitas páginas da Internet o desfazem nas
horas seguintes. Nós mesmos como educadores e telespectadores sentimos na pele
a esquizofrenia das visões contraditórias de mundo e das narrativas (formas de
contar) tão diferentes dos meios de comunicação e da escola.
Percebeu que na
procura desesperada pela audiência imediata e fiel, os meios de comunicação
desenvolvem estratégias e fórmulas de sedução mais e mais aperfeiçoadas: o
ritmo alucinante das transmissões ao vivo, a linguagem concreta, plástica,
visível? Mexem com o emocional, com as nossas fantasias, desejos, instintos.
Passam com incrível facilidade do real para o imaginário, aproximando-os em
fórmulas integradoras, como nas telenovelas.
Em síntese, os Meios
são interlocutores constantes e reconhecidos, porque competentes, da maioria da
população, especialmente da infantil. Esse reconhecimento significa que os
processos educacionais convencionais e formais como a escola não podem voltar
as costas para os meios, tão atraente e tão
eficiente. A maior parte do referencial do mundo de crianças e jovens provém da
televisão. Ela fala da vida, do presente, dos problemas afetivos, a escola é
muito distante e abstrata, e fala de forma viva e sedutora, a escola, em geral,
é mais cansativa.
As crianças e jovens
se acostumaram a se expressar de forma polivalente, utilizando a dramatização,
o jogo, a paráfrase, o concreto, a imagem em movimento. A imagem mexe com o
imediato, com o palpável. A escola desvaloriza a imagem e essas linguagens como
negativas para o conhecimento. Ignora a televisão, o vídeo; exige somente o
desenvolvimento da escrita e do raciocínio lógico. É fundamental que a criança
aprenda a equilibrar o concreto e o abstrato, a passar da espacialidade visual,
para o raciocínio da lógica falada e escrita. Não se trata de opor os meios de
comunicação às técnicas convencionais de educação, mas de integrá-los, de
aproximá-los para que a educação seja um processo completo, rico, estimulante.
A escola precisa observar o que está acontecendo nos meios de comunicação e
mostrá-lo na sala de aula, discutindo-o com os educandos, ajudando-os a que percebam
os aspectos positivos e negativos das abordagens sobre cada assunto.
Precisamos, em conseqüência, estabelecer pontes efetivas entre educadores
e meios de comunicação. Educar os educadores para que, junto com os
seus educandos, compreendam melhor o fascinante processo de troca, de
informação-ocultamento-sedução, os códigos polivalentes e suas mensagens.
Educar para compreender melhor seu significado dentro da nossa sociedade, para
ajudar na sua democratização, onde cada pessoa possa exercer integralmente a
sua cidadania.
Em que níveis pode ser pensada a
relação Comunicação, Meios de Comunicação e Escola? Entendemos que esta pode
ser pensada em três níveis:
1. Organizacional
2. De Conteúdo
3. Comunicacional
- No nível Organizacional: uma escola mais participativa, menos
centralizadora, menos autoritária, mais adaptada a cada indivíduo. Para isso, é
importante comparar o nível do discurso, do que se diz ou se escreve, com a
práxis com as efetivas expressões de participação.
- No nível de Conteúdo: uma escola que fale mais da vida, dos
problemas que afligem os jovens. Tem que preparar para o futuro, estando
sintonizada com o presente. É importante buscar nos meios de comunicação
abordagens do quotidiano e incorporá-las criteriosamente nas aulas.
- No nível Comunicacional: conhecer e incorporar todas as
linguagens e técnicas utilizadas pelo homem contemporâneo. Valorizar as
linguagens audiovisuais, junto com as convencionais.
Tem-se enfatizado a questão do
conhecimento como essencial para uma boa educação. É básico ajudar o educando a
desenvolver sua(s) inteligência(s), a conhecer melhor o mundo que o rodeia. Por
outro lado, fala-se da educação como desenvolvimento de habilidades: "Aprender a aprender", saber comparar, sintetizar,
descrever, se expressar.
Desenvolver a inteligência, as
habilidades e principalmente, as atitudes. Ajudar o educando a adotar atitudes
positivas, para si mesmo e para os outros. Aqui reside o ponto crucial da
educação: ajudar o educando a encontrar um eixo fundamental para a sua vida, a
partir do qual possa interpretar o mundo (fenômenos de conhecimento),
desenvolva habilidades específicas e tenha atitudes coerentes para a sua
realização pessoal e social. [[Ver o capítulo A comunicação na educação do livro
Mudanças na comunicação pessoal de
José Manuel Moran, São Paulo, Paulinas, 2000, páginas, 155-166]].
A transmissão de informação é a tarefa
mais fácil e onde as tecnologias podem ajudar o professor a facilitar o seu
trabalho. Um simples CD-ROM contém toda a Enciclopédia Britânica, que também
pode ser acessada on line pela Internet. O educando nem precisa ir a escola
para buscar as informações. Mas para interpretá-las, relacioná-las,
hierarquizá-las, contextualizá-las, só as tecnologias não serão suficientes. O
professor o ajudará a questionar, a procurar novos ângulos, a relativizar
dados, a tirar conclusões.
Que outras contribuições as tecnologias
podem dar ao professor? As tecnologias também ajudam a desenvolver habilidades,
espaço-temporais, sinestésicas, criadoras. Mas o professor é fundamental para
adequar cada habilidade a um determinado momento histórico e a cada situação de
aprendizagem.
As tecnologias são pontes que abrem a
sala de aula para o mundo, que representam, medeiam o nosso conhecimento do
mundo. São diferentes formas de representação da realidade, de forma mais
abstrata ou concreta, mais estática ou dinâmica, mais linear ou paralela, mas
todas elas, combinadas, integradas, possibilitam uma melhor apreensão da
realidade e o desenvolvimento de todas as potencialidades do educando, dos
diferentes tipos de inteligência, habilidades e atitudes.
As tecnologias permitem mostrar várias
formas de captar e mostrar o mesmo objeto, representando-o sob ângulos e meios
diferentes: pelos movimentos, cenários, sons, integrando o racional e o
afetivo, o dedutivo e o indutivo, o espaço e o tempo, o concreto e o abstrato.
A educação é um processo de construção
da consciência crítica. Como então se dá esse processo? Essa construção começa
com a problematização dos dados que nos chegam direta e indiretamente, através
dos meios, por exemplo, recontextualizando-os numa perspectiva de conjunto,
totalizante, coerente, um novo texto, uma nova síntese criadora. Essa síntese
integra os dados tanto conceituais quanto sensíveis, tanto da realidade quanto
da ficção, do presente e do passado, do político, econômico e cultural. Falamos
assim, de uma educação para a comunicação.
Uma educação que procura ajudar as pessoas individualmente e em grupo a
realizar sínteses mais englobantes e coerentes, tomando como partida as
expressões de troca que se dão na sociedade e na relação com cada pessoa;
ajudar a entender uma parte dessa totalidade a partir da comunicação enquanto
organização de trocas tanto ao nível interpessoal como coletivo.
A educação para a comunicação precisa
da articulação de vários espaços educativos, mais ou menos formais: educação ao
nível familiar, trabalhando a relação pais-filhos-comunicação, seja de forma
esporádica ou em momentos privilegiados, em cursos específicos também. A
relação comunicação-escola, uma relação difícil e problemática, mas
absolutamente necessária para o enriquecimento de ambas, numa nova perspectiva
pedagógica, mais rica e dinâmica. Comunicação na comunidade, analisando os
meios de comunicação a partir da situação de uma determinada comunidade e
interpretando concomitantemente os processos de comunicação dentro da
comunidade. Educação para a comunicação é a busca de novos conteúdos, de novas
relações, de novas formas de expressar esses conteúdos e essas relações.
A escola precisa exercitar as novas
linguagens que sensibilizam e motivam os educandos, e também combinar pesquisas
escritas com trabalhos de dramatização, de entrevista gravada, propondo
formatos atuais como um programa de rádio uma reportagem para um jornal, um
vídeo, onde for possível. A motivação dos alunos aumenta significativamente
quando realizam pesquisas, onde se possam expressar em formato e códigos mais
próximos da sua sensibilidade. Mesmo uma pesquisa escrita, se o educando puder
utilizar o computador adquire uma nova dimensão e, fundamentalmente, não muda a
proposta inicial.
Antes de a criança chegar à escola, já
passou por processos de educação importantes: pelo familiar e pela mídia
eletrônica. No ambiente familiar, mais ou menos rico cultural e
emocionalmente, a criança vai desenvolvendo as suas conexões cerebrais, os seus
roteiros mentais, emocionais e suas linguagens. Os pais, principalmente a mãe,
facilitam ou complicam, com suas atitudes e formas de comunicação mais ou menos
maduras, o processo de aprender a aprender dos seus filhos. A criança também é educada
pela mídia, principalmente pela televisão. Aprende a informar-se, a
conhecer os outros, o mundo, a si mesmo a sentir, a fantasiar, a relaxar,
vendo, ouvindo, "tocando" as pessoas na tela, que lhe mostram como
viver, ser feliz e infeliz, amar e odiar. A relação com a mídia eletrônica é
prazerosa ninguém obriga é feita através
da sedução, da emoção, da exploração sensorial, da narrativa aprendemos vendo
as estórias dos outros e as estórias que os outros nos contam. Mesmo durante o
período escolar a mídia mostra o mundo de outra forma mais fácil, agradável,
compacta sem precisar fazer esforço. Ela fala do cotidiano, dos sentimentos,
das novidades. A mídia continua educando como contraponto à educação
convencional, educa enquanto estamos entretidos. A educação escolar precisa compreender
e incorporar mais as novas linguagens, desvendar os seus códigos, dominar
as possibilidades de expressão e as possíveis manipulações. É importante educar
para usos democráticos, mais progressistas e participativos das tecnologias,
que facilitem a evolução dos indivíduos. O poder público pode propiciar o
acesso de todos os educandos às tecnologias de comunicação como uma forma
paliativa, mas necessária de oferecer melhores oportunidades aos pobres, e
também para contrabalançar o poder dos grupos empresariais e neutralizar
tentativas ou projetos autoritários.
Se a educação
fundamental é feita pelos pais e pela mídia, urgem ações de apoio aos pais
para que incentivem a aprendizagem dos filhos desde o começo das vidas deles,
através do estímulo, das interações, do afeto. Quando a criança chega à
escola, os processos fundamentais de aprendizagem já estão desenvolvidos de
forma significativa. Urge também a educação para as mídias, para
compreendê-las, criticá-las e utilizá-las da forma mais abrangente possível.
A educação para os meios começa com a
sua incorporação na fase de alfabetização. Alfabetizar-se não consiste só em
conscientizar os códigos da língua falada e escrita, mas dos códigos de todas
as linguagens do homem atual e da sua interação. A criança, ao chegar à escola,
já sabe ler histórias complexas, como uma telenovela, com mais de trinta
personagens e cenários diferentes. Essas habilidades são praticamente ignoradas
pela escola, que, no máximo, utiliza a imagem e a música como suporte para
facilitar a compreensão da linguagem falada e escrita, mas não pelo seu
intrínseco valor. As crianças precisam desenvolver mais conscientemente o
conhecimento e prática da imagem fixa, em movimento, da imagem sonora e fazer
isso parte do aprendizado central e não marginal. Aprender a ver mais
abertamente, o que já estão acostumadas a ver, mas que não costumam perceber
com mais profundidade (como os programas de televisão).
Antes de pensar em
produzir programas específicos para as crianças, convém retomar, estabelecer
pontos com os produtos culturais que lhes são familiares. Fazer re-leituras dos
programas infantis, re-criação desses mesmos programas, elaboração de novos
conteúdos a partir dos produtos conhecidos. Partir do que o rádio, jornal,
revistas e televisão mostram para construir novos conhecimentos e desenvolver
habilidades. Não perder a dimensão lúdica da televisão, dos computadores. A
escola parece um desmancha prazeres. Tudo o que as crianças adoram a escola
detesta, questiona ou modifica. Primeiro deve-se valorizar o que é valorizado
pelas crianças, depois procurar entendê-lo (os professores e os pais) do ponto
de vista delas, crianças, para só mais tarde, propor interações novas com os
produtos conhecidos. Depois se podem exibir programas adaptados à sua
sensibilidade e idade, programas que sigam o mesmo ritmo da televisão, mas que
introduzam alguns conceitos específicos que, aos poucos, irão sendo
incorporados.